METODOLOGIA

                                       METODOLOGIA

 


A atuação da CFDS se baseia em alguns princípios fundamentais: conceitos que norteiam nossa atuação e trazem à tona o entendimento que compartilhamos sobre noções que perpassam as ações de nosso dia a dia. Muitas vezes, na rotina de uma organização, o uso de determinados termos acaba fazendo com que eles se naturalizem, ou com que se tornem apenas chavões. Na tentativa de evitar esse problema, criamos a lista de verbetes abaixo. As descrições propostas não tem a pretensão de ser definitivas, nem de esgotar o sentido das práticas e objetos aos quais elas se referem. Antes disso, pretendem, apenas, tornar claro o sentido que atribuímos a alguns conceitos centrais para nosso trabalho.


acesso público


Em comunicação comunitária, acesso público significa conquista e ocupação de espaços de visibilidade na mídia, por diversos grupos sociais, com autonomia, expressão ativa e apropriação de recursos e tecnologias para a produção midiática. É uma maneira de promover a diversidade e democratizar a comunicação, em contraponto aos modelos difundidos pelos veículos convencionais. No entanto, isso não basta. Atualmente, mais do que nunca, o conceito de acesso público envolve também a formação das pessoas para uma relação criativa mais crítica e produtiva com os meios, para que criem, elas próprias, narrativas inovadoras, tanto no sentido estético quanto no político.

Um exemplo ilustra bem essa perspectiva: jovens que vivem em situação de risco social geralmente são representados, nas mídias tradicionais, quase exclusivamente em contextos de miséria e violência. A possibilidade de que eles “se mostrem” ao invés de “serem mostrados” cria oportunidades para que construam imagens mais positivas acerca de si mesmos. Imagens que podem, dentre outras coisas, privilegiar manifestações culturais, a vida em comunidade, o respeito às diferenças e suas histórias de luta, por exemplo.


mobilização social


Processos de mobilização social acontecem quando algumas pessoas decidem atuar conjuntamente, com ideais comuns no horizonte, para transformar uma determinada realidade. A partir de um esforço convocatório, criam-se encontros e modos de articulação entre as pessoas, que definem objetivos e compartilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades, buscando resultados de interesse coletivo. Mas sabemos que para transformar realidades no plano material, também é necessária a construção de novos imaginários em relação ao problema enfrentado e às soluções possíveis para ele. É exatamente aí que a comunicação comunitária pode entrar de maneira decisiva, no processo de mobilização social, permitindo que os grupos possam visualizar de maneira concreta e compartilhar suas questões, coletivizar as produções midiáticas e se de maneira corresponsável em sua realização.


empoderamento


Numa democracia, pessoas e grupos empoderados são aqueles conscientes de suas condições atuais e responsáveis pelas relações que constroem no mundo. O empoderamento não é algo que se possa atribuir a alguém, mas é, antes, um processo em que pessoas, geralmente em situação de exclusão material e/ou simbólica, acessam recursos que lhes permitem desfrutar de voz, visibilidade, influência e capacidade de ação e decisão. Metodologias que busquem promover o acesso público à comunicação contribuem justamente para isso. O esforço em construir relações horizontalizadas, a discussão de produtos e processos e o estímulo à apropriação inventiva e autônoma das mídias potencializam o empoderamento dos sujeitos. Espera-se que grupos em vias de empoderamento proponham e experimentem novas narrativas e práticas comunicacionais, no sentido de desnaturalizar e reconstruir métodos e representações até então cristalizados.


trabalho em redes


Uma rede é feita de relações. Dentro dela, as pessoas interagem por meio de inúmeras conexões simultâneas. Redes articuladas em torno de uma causa buscam a cooperação e a partilha de objetivos comuns. Não há hierarquias preestabelecidas, mas polos de liderança em permanente rearranjo. A estrutura de uma rede, quando bem articulada, tem alto poder de multiplicação e expansão, o que favorece a mobilização social e a produção colaborativa, em tempos e espaços diversos. Nos trabalhos em rede, a participação autônoma e corresponsável das pessoas é um requisito fundamental para que as interações se mantenham vivas e tenham projeção coletiva.


mídia-processo


Metodologia de produção midiática que tem como fundamento a experimentação coletiva e a educação participativa. Ou seja, a formação é processual e acontece ao mesmo tempo em que os produtos midiáticos são criados, de modo que a aprendizagem e a construção do conhecimento se dão por meio do envolvimento prático das pessoas. Quer dizer, não é uma prova, mas um jogo. O campo da comunicação comunitária passa, então, a ser entendido como um espaço formativo, em que os grupos se apropriam de tecnologias e definem o que mostrar/dizer e como fazê-lo. Esse processo, tão importante quanto o produto final, estimula uma apropriação expressiva, crítica e criativa dos meios pelos grupos.

jogos midiáticos


Os jogos midiáticos são um caminho prazeroso para se fazer audiovisual. A proposta é convidar as pessoas a experimentar uma nova relação com os equipamentos, a linguagem e os meios de comunicação. O “como fazer” nunca deve ser estabelecido como regra, antecipando o ato de jogar. O jogo não é algo que já vem pronto, mas deve ser inventado pelos participantes e, portanto, transforma-se à medida que é jogado. Nas proposições feitas nos jogos midiáticos, busca-se resgatar o sentido do fazer coletivo. Solucionar problemas, criar conceitos e estipular regras são desafios postos ao grupo. Assim, passamos a pensar a produção da mídia como um jogo e, ao mesmo tempo, jogar para aprender a produzir mídia coletivamente. Isso não significa, no entanto, que o esforço individual não seja necessário. Valorizar as diferenças, incorporar outros ritmos e pensar outras ideias tornam-se fundamentais para o fortalecimento do indivíduo e, consequentemente, do grupo.

comunicação estratégica


Entender quem serão nossos interlocutores e o que eles esperam de nossas produções é fundamental para o bom andamento dos trabalhos. Na comunicação estratégica, as pessoas responsáveis pelas práticas comunicativas elaboram conjuntamente as diretrizes que vão orientar seu trabalho. É necessário saber quem são as pessoas e os grupos com os quais se pretende dialogar, quais as ideias que se deseja comunicar e de que maneira elas serão transformadas em produtos e práticas comunicacionais. Também é importante pensar as formas de circulação dos produtos e analisar sua repercussão junto aos públicos a que se destinam. Nem sempre, no entanto, essas diretrizes são fruto de um planejamento sistemático, já que elas podem surgir de experiências mais espontâneas. Um planejamento estratégico em comunicação é como uma bússola das atividades, ou seja, orienta as ações do grupo dependendo de sua posição.